Verdade e Política: A Retórica de Nikolas Ferreira em Debate

Se há algo que auspicia bem em torno da perseguição às chamadas fake news, é que, a partir de agora, os políticos se preocuparão em ser mais precisos em seus discursos. Se isso compensa as desvantagens de se ter a língua vigiada ainda é uma questão em aberto. De qualquer maneira, já percebemos essa maior exatidão na comunicação viralizada de Nikolas Ferreira sobre o Pix, na qual ele pontua que essa transação propriamente não será tributada, mas sim ficará sob o escrutínio da Receita para, então, ser, como se diz, taxada se for sinal de renda. 

O deputado atribui a enorme quantidade de visualizações à verdade. No Instagram, porém, @pedrosettec, com seu ceticismo típico em relação a esses assuntos mundanos, lembra que não estamos no âmbito da verdade, mas no da verossimilhança. Aplicando a teoria de René Girard, ele explica ainda que a popularidade da fala do parlamentar se deve antes à necessidade, sentida com força, da grande massa de pequenos cidadãos brasileiros de se opor, juntos, ao grande modelo-adversário que é o governo. Essa urgência faria com que as pessoas compartilhassem um vídeo que tem o poder de uni-las contra o inimigo-mor. Irretocável até aqui a análise de Sette.

A meu ver, porém, essa energização de algo meramente retórico não seria possível se não estivéssemos diante de um vídeo que, de fato, recolhe as opiniões aceitas para manejá-las bem, isto é, tendo no horizonte, mais do que o objetivo de manipular sentimentos, uma verdade prática. Isso não só é possível, mas também recomendável como fator justificador da retórica, que apela à mesma faculdade de busca da verdade que anima o cientista e o filósofo. O verossímil não é algo oposto à verdade, mas um reflexo dela, mais pálido porque adaptado ao mundo político. Nesse sentido, não posso concordar com @pedrosettec quando ele afirma que a manifestação de Nikolas não "beneficia realmente" a assistência.

A não ser que se tenha uma ideia de Benefício Real como algo que paira acima do universo da contingência em que se dão as deliberações políticas, é possível reconhecer na intervenção do deputado os simples méritos de ser uma peça de resistência à sanha arrecadadora do Estado e um estímulo à vigilância sobre as despesas do governo. Ele deu voz a um arranjo de opiniões aceitas que leva à ação. Que isso tenha como efeito colateral a exacerbação da rivalidade no país é um mal necessário, impossível de evitar em um âmbito em que é preciso se posicionar.