A Expertise Cristã

pintura de Rembrandt, mostrando 
os vinhateiros sendo pagos à tarde

São Paulo nos exorta a ter a expertise da vida cristã, vale dizer, a sermos alguém que se destaca da multidão graças à sua doutrina e à sua vivência. Mozart, na música; Pontes de Miranda, no direito; Einstein, na física; Shakespeare, na literatura; Pelé, no futebol; Michael Jordan, no basquete: todos foram pessoas que chegaram a um conhecimento teórico ou prático muito acima da média, e é justamente a tanto que São Paulo nos chama, dentro do domínio cristão, com aquela sua comparação de que, no estádio, muitos correm, mas um só recebe o prêmio (I Coríntios 9: 24-27).

É falsa, portanto, aquela humildade que não se lança ser o melhor que um cristão pode ser, a saber, um santo. Por outro lado, não é preciso dizer que o santo nunca se julga acabado e sempre luta contra a soberba de se achar melhor do que os outros.  

É maravilhoso, assim, que a Igreja Católica, pelo menos na Liturgia Tradicional, coloque essa leitura de São Paulo de par com o Evangelho da parábola do Senhor que saiu a contratar a horas e desoras operários para sua vinha (Mt 20: 1-16). E, ao fim do dia, pagou a todos, aos que chegaram mais cedo ou mais tarde, o mesmo denário, despertando a inveja daqueles que começaram de manhã, os quais, ipso facto, deixaram de ser os primeiros. A lição, enunciada por Nosso Senhor, é que há primeiros que serão os últimos, e últimos que serão os primeiros.

Os dois textos se equilibram, e o Evangelho impede que se tresleia a Carta. Ser expert é simplesmente não se contentar com o que já fazemos ou com o que se costuma fazer em matéria de proximidade com Deus. Segundo a ciência da expertise, de fato, ao nos aventurarmos a subir a montanha de qualquer especialidade, no caminho sempre atingimos um platô, para passar o qual é necessário voltar à aquela prática deliberada do início, quando sabemos que podemos melhorar, mas um estágio acima. 

Os primeiros operários invejosos se contentaram com ser os primeiros e, conectando a parábola com a imagem paulina, pararam de correr. O que deveria ter sido feito para continuarem a ser os primeiros seria ultrapassar o platô do nível mais elevado em que de fato se encontravam usando a noite para prestar algum outro serviço ao Senhor, ao invés de reclamarem da bondade dEste com os últimos. 

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