Moraes como Bode Expiatório
É um processo lento, como costumam ser os judiciais, mas Moraes deve ser condenado na ação de Rumble contra ele. De fato, o máximo que o ministro conseguiu em matéria de justificativa, via a subserviência do Itamaraty, foi o argumento de que os EUA "distorcem" o sentido das suas decisões, sem explicar qual seria seu conteúdo democrático. Isso não vale um pequi roído, para universalizar uma expressão já consagrada pela crítica política.
Mas Moraes não quer cair sozinho. Ele quer levar o país inteiro com ele. Ao invés de assumir uma responsabilidade individual, ele busca diluir a questão, arregimentando os defensores da grande soberania brasileira para lutar por sua causa perdida. A rigor, não faz muito sentido, porque a soberania vítima no caso foi a americana, não a brasileira. De fato, a ideia de que uma rede social americana não respeitou a soberania brasileira não passa de um agitprop lulista para reagir contra os agitprops adversários. O ato concreto, palpável e indiscutível foi o mandado brasileiro enviado para os EUA via e-mail, sem passar pelo crivo da justiça estrangeira. O resto é discurso e narrativa.
Porém, a dúvida que me ocorreu foi a seguinte: É possível que falemos em responsabilidade individual num contexto saturado de imitação como é o cenário político? Em outras palavras: em alguma medida, é legítima a busca de Moraes por diluir o problema? Sem dúvida, ele exagera nesse sentido. Moraes não foi respaldado pelo país inteiro, e temos que atribuir o discurso da soberania brasileira ofendida a uma retórica de quinta. Mas o ministro poderia, sem grandes extrapolações, dizer-se um agente que seguiu os desejos de boa parte da população brasileira, incomodada com a propaganda bolsonarista no X, Rumble, etc. Tendo isso em mente, caberia a ele responsabilizar-se sozinho ou seria isso a criação de mais um bode expiatório? Lembremos que, por definição, o bode expiatório não é o indivíduo mais culpado, mas apenas a vítima mais conveniente...