O Senhor do Administrador Infiel
A controvérsia recente envolvendo a CNBB e a ABONG constitui uma oportunidade para explorar a empatia em sua acepção mais exigente: não como uma mera disposição afetiva, mas como um exercício deliberado de deslocamento do ponto de vista. Trata-se de tentar compreender a posição do outro, especialmente daquele que, à luz da parábola do administrador infiel (Lc 16,1-13), se interroga sobre a administração de bens e recursos à luz da fé. De antemão, registro que não identifico, nas ações da CNBB, qualquer sinal claro de imprudência ou deslealdade à doutrina católica. Proponho, entretanto, uma reflexão que nos permita vislumbrar o horizonte de sentido no qual se movimenta o católico crítico dessa entidade.
O primeiro passo nesse itinerário é dar nomes aos bois, atualizando a lógica da parábola evangélica. O católico que se mostra crítico pode ser tanto o difusor de acusações quanto o senhor, que, diante de rumores acerca da má gestão de seu administrador, convoca-o para prestar contas. Neste ensaio, serei generoso com o crítico e lhe darei o papel mais elegante: o de senhor. À pobre CNBB cabe, nesse faz-de-conta, o lugar do administrador infiel. Repito que essa atribuição não implica uma imputação objetiva, mas apenas a tentativa de interpretar o fenômeno a partir da perspectiva daquele que suspeita.
Um versículo inaugural da parábola é importante nesse sentido: Depois de ouvir os boatos contra o administrador, o senhor "vocavit illum et ait illi: Quid hoc audio de te? Redde rationem vilicationis tuae; iam enim non poteris vilicare." ("chamou-o e lhe disse: Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, de fato já não poderás administrar.") Ao exigir uma prestação de contas, o senhor não profere um juízo definitivo, mas aciona uma medida de suspensão cautelar, cujo propósito é permitir o esclarecimento sem riscos de maiores danos. A interdição do exercício da administração é, neste ponto, mais prudencial do que penal. O senhor permanece em atitude de escuta e de discernimento.
Segue-se, portanto, que o católico que adota a postura do senhor não pode furtar-se à tarefa de, continuando a representação, ouvir a defesa da administração. Abster-se dessa escuta, optando pela difusão irrefletida de acusações, equivale a recusar a própria lógica da parábola e a reduzir-se ao papel de mero replicador de notícias. A crítica, para ser legítima, deve estar ancorada na disposição de escutar e ponderar as razões apresentadas.
Mais do que aderir automaticamente a uma defesa ou a uma denúncia, o verdadeiro desafio aqui é de natureza intelectual: assumir a atitude do senhor evangélico que, antes de julgar, exige o esclarecimento racional da gestão. Essa exigência deve ser conduzida com rigor, justiça e caridade, sem as quais toda crítica se degrada em murmuração estéril.